Indumentária Gaúcha
A Vestimenta do Peão
Mais que uma necessidade imposta pela sociedade, ou mesmo, qualquer outra de ordem biológica, a vestimenta gaúcha obedece todo um ritual. A despeito da maneira caricata com que é observada pelo vulgo, cada peça de sua vestimenta tem uma finalidade específica, em outras palavras, nenhuma peça que compõe a indumentária gaúcha, é gratuita.
O que mudou, de fato, é que diante de novas necessidades existenciais, não há mais oralidade na transmissão do conhecimento e no que diz respeito a tradição, a indumentária é copiada e repetida valendo-se para isso da simples observação em se atinar para os reais significados de cada peça.
Alpargata
Uma variação de alpercata. Sandália que se prende ao pé por tiras de couro ou de pano. Pode ser chamada também de alparca, alparcata, apragata, paragata, pracata, pragata ou parcata.
Barbicacho
Uma espécie de cordão trançado que passa por baixo do queixo e serve para segurar o chapéu.
Bombacha
Uma das peças fundamentais da vestimenta gaúcha. Consiste em uma calça larga presa na cintura por um cinto, guaiaca ou tirador e no tornozelo por botões. Originária da Turquia, foi usada na Espanha e após para os países do Prata. Foram, porém, os comerciantes ingleses a introduzir a bombacha na América do Sul. A bombacha foi trazida como mais uma mercadoria do comércio mercenário dos ingleses. Começou a aparecer com maior intensidade na época da Guerra do Paraguai, embora seu uso venha de alguns anos antes da guerra. Foi fardamento militar das tropas brasileiras. O uso da bombacha exige, obrigatoriamente, camisa com mangas compridas. Deve ser acompanhada de botas, alpargatas, tamanco ou chinelos de couro, estilo gauchesco e não modernizado.
Bota
Do francês botte. Calçado de couro que envolve o pé, a perna e, às vezes, a coxa. Peça fundamental na vestimenta gaúcha.
Chapéu
Do francês chapeau. Peça de feltro ou palha com copa e abas e destinada a cobrir a cabeça. Originalmente criado para a proteção contra o sol embora, hoje, sirva mais como ornamento uma vez que é usado a noite, em lugares fechados ou até mesmo em solenidades.
Chinelo
Calçado macio, geralmente sem salto, para uso doméstico. Na vestimenta gaúcha o chinelo é de couro.
Chiripá
Do quíchua xiri pac “para o frio” através do espanhol platino chiripá. Vestimenta sem costura, outrora usada pelos gaúchos habitantes do campo, e que consistia em um metro e meio de fazenda que, passava por entra as pernas, era presa à cintura por uma cinta de couro ou pelo tirador. Atualmente é mais usada em festas ou solenidades, quase como um adereço de gala complementando o traje gaúcho.
Cinto
Faixa ou tira de tecido, de couro, ou de outros materiais que cinge o meio do corpo com uma só volta. Modernamente o cinto vem ornado com fivelas largas e que trazem encrustadas, gravações com motivos campeiros e que demonstram a afinidade do seu usuário com a tradição gaúcha.
Espora
Do gótico spaúra. Instrumento de metal pontiagudo preso ao calçado com uma tira de couro que serve para incitar o animal que se monta. Pode vir a acompanhada de uma roseta (roda metálica dentada) que tem a mesma finalidade. Normalmente usada em rodeio quando o peão utiliza uma das mãos para se firmar na crina ou no areio e a outra estendida buscando manter o equilíbrio em cima do animal, valendo-se das esporas então, para fustigá-lo.
Faixa
Do latim fascia pelo catalão faxa. Tira de pano ou couro com que se aperta ou enfeita a cintura. Hoje, usada quase, unicamente, como enfeite e, em festividades.
Guaiaca
Da quíchua huayaca saco, pelo espanhol platino guayaca. Cinto largo de couro ou de camurça, provido de bolsinhos, usado para se guardar dinheiro, objetos miúdos, e também para o porte de armas.
Lenço
Pedaço quadrado de pano, linho ou seda, de dimensões variadas que serve para ornar ou proteger a cabeça ou pescoço. No princípio tinha uma função utilitária e servia para proteger o nariz e aboca da poeira na lidas campesinas. O lenço é preso ao pescoço através de um nó ou um anel. Um nó bem feito empresta distinção ao usuário. Já o anel, menos usado, pode ser de couro com alguma gravação feita a fogo ou de chifre com incrustações de pedras preciosas.
Pala
Uma espécie de poncho leve, de fazenda, brim ou até de seda, com as pontas franjadas.
Polaina
Do francês antigo polaine. Peça do vestuário que proteje a parte inferior da perna e superior do pé. O gaúcho primitivo ou o peão valia-se desta proteção (de couro) amarrada com tiras igualmente de couro, e mesmo descalçado (como revelam as gravuras antigas) a polaina oferecia proteção.
Poncho
Do araucano pontho ou espanhol pocho “descorado” pelo espanhol platinizado poncho. Capa quadrangular, de lã grossa, com uma abertura no meio, pela qual se passa a cabeça. Usado pelo gaúcho desde os primórdios, como abrigo contra o frio, servia de cama e até mesmo como escudo nos entreveros quando as armas eram facas.
Tamanco
Calçado rústico, cuja base é de madeira e não de sola.
Tirador
Do espanhol tirador. Tira de couro que os laçadores usam à volta da cintura quando laçam a pé.
Obs: Pilcha do espanhol platinizado pilcha. Adereço, adorno. Diz-se alguém que está pilchado quando veste o traje completo, isto é, chapéu, guaiaca, bombacha , bota, etc.
A Vestimenta da Prenda
Depois de algumas diferentes indumentárias que pilharam a penda gaúcha, finalmente ela ganhou um vestido definitivo a partir do 34.º Congresso do Tradicionalismo gaúcho, realizado em Caçapava do Sul, em 1989, para comparecer nos bailes e outros eventos que façam parte desta tradição.
De acordo com a revista Pampa, n.º, de março de 1991, a tese pertence ao professor Luiz Celso Hiarup, dando as linhas fundamentais para a confecção do paramento que, no melhor estilo machista, não quer saber de decotes ou fazendas transparentes.
As 18 recomendações para o traje da prenda
01) O vestido deve ser uma peça, com a barra da saia à altura do peito do pé.
02) A quantidade de passa-fitas, apliques, babados e rendas, é de livre criação.
03) O vestido deve ser de tecido estampado ou liso, sendo facultado o uso de tecido sintético com
estamparia miúda ou petit-pois.
04) Vedado o decote e vestidos transparentes.
05) Saia de armar, quantidade livre e lógica.
06) Obrigatório o uso de bombachinhas rendadas ou não, cujo comprimento deverá atingir a altura do
joelho.
07) Mangas até o cotovelo, ¾ ou até os pulsos.
08) Lenço com pontas cruzadas sobre o peito, ou fichu (de seda com franjas ou crochê), uma ou outra
peça, presa com broche o camafeu, facultativo o uso de chale.
09) Meias longas, brancas ou coloridas, não transparentes.
10) Sapato de salto S ou meio salto que abotoa do lado de fora por uma tira que passa sobre o peito
do pé, ou botinha (para estancieira).
11) Cabelo solto em trança (única ou dupla), enfeitado com flores ou fitas.
12) Facultado o uso de brincos de argola inteira, de metal, ou outros discretos, vedado os de fantasia
ou plásticos.
13) Permitido o uso de pulseiras de metal. Não são aceitas pulseiras de plástico.
14) Vedado o uso de colares. Permitido correntinha com medalha ou pingente discreto.
15) Permitido o uso de um anel de metal em cada mão.
16) É permitido o uso discreto de maquiagem.
17) Vedado o uso de relógio de pulso grande e indiscreto.
18) Livre criação, quando as cores, padrões e silhuetas, dentro dos parâmetros acima numerados.
Fonte: http://www.sougaucho.com.br/gaucho/index_indumentaria.htm